Lavoura substitui áreas de pastagem

Este ano a área de soja em Mato Grosso, principal produtor da leguminosa, deve crescer 200 mil hectares em relação à safra passada. Tudo em cima de pastagens degradadas. No noroeste de São Paulo, em Araçatuba, os canaviais avançaram, de cinco anos para cá, exclusivamente em áreas de pasto – a região, conhecida como Terra do Boi, vai sendo ocupada por usinas de açúcar e álcool que por ali se instalaram – pelo menos 15.

Segundo o presidente da Associação dos Produtores de soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Glauber Silveira, “nosso Estado dispõe de 5 milhões a 6 milhões de hectares de terras aptas à agricultura ocupadas com  pasto”. Na safra passada, Silveira diz que 100 mil hectares de pasto já foram convertidos, sobretudo no oeste. Para Silveira, o incremento na área de lavouras poderia ser maior, pois “há muitos pecuaristas que resistem em arrendar área e não dispõem de capital necessário para investir em lavouras de grãos”. Ele acredita que se o mercado continuar bom para os grãos, “a incorporação de pastagens continuará a ser a grande tendência”.

O pasto tem se firmado como “a nova fronteira” agrícola num cenário em que se acentuam as restrições ao desmatamento e também em lugares nos quais, na verdade, já quase não há mata nativa a ser derrubada. Além disso, dependendo da região e da distância em relação aos polos produtores, desmatar já não é economicamente viável. Área aberta para a expansão é o que não falta, aliás. Segundo estudo do professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Gerd Sparovek, o País dispõe de 60 milhões de hectares de pastagens com elevada ou média aptidão agrícola, dos quais boa parte cedo ou tarde será convertida em lavoura para atender à crescente demanda mundial por alimentos.

Nos cerrados do Centro-Oeste, embora a compilação de dados do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) compreenda o período de 2005 a 2008 – “Quando a expansão da soja ainda não tinha sido tão acentuada”, explica o diretor geral do instituto, André Meloni Nassar – as pastagens já podem ser consideradas as grandes doadoras de terras para a expansão das lavouras de grãos. Em Canarana, no leste de Mato Grosso, região tradicional na pecuária, o vice-presidente do Sindicato Rural, Arlindo Cancian, cultivou, na última safra, 450 hectares de soja. Na próxima, serão 600 hectares, cuja diferença avançará em pastos degradados.

Além de agricultor, Cancian é pecuarista e aproveita para recuperar pastos com lavoura, no sistema de integração lavoura-pecuária. “Produzo soja, milho, sorgo e milheto e tenho 700 cabeças de gado de corte”, explica. “Quando sai a lavoura, entra o gado nos restos de cultura. Assim vou recuperando a pastagem”, explica. Do total de 1,87 milhão de hectares do município, 450 mil hectares são de pasto, a maior parte precisando de reforma, diz o produtor. “E é nessas áreas que o plantio de grãos, sobretudo o de soja, crescerá por aqui, de 128 mil hectares na safra passada para 150 mil hectares na próxima safra”, continua Cancian, acrescentando que a recuperação de pastagens tem ocorrido desta forma, com lavoura em cima. Para Cancian, com a integração “é possível colocar mais animais por hectare e ter renda maior também na pecuária.”

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